A cidade de Cabo Frio está mais violenta. O estado do Rio de Janeiro está mais violento. O Brasil está mais violento. Por todo lugar, só se fala nesse assunto: o aumento da violência. A menos de um mês de recebermos um dos maiores eventos esportivos do mundo, pipocam, lá e cá, queixas sobre a ausência de segurança, sofre furtos, sequestros... Mortes. Em Pernambuco, um torcedor morreu atingido por um vaso sanitário atirado do anel superior de um estádio. Em pleno Rio de Janeiro, uma dupla foi flagrada de motocicleta assaltando motoristas como se o ato fosse tão normal quanto respirar. Os exemplos – incontáveis, aliás – parecem não ser nada quando colocados ao lado dos números. De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública, em janeiro, fevereiro e março de 2014, o número de roubos no estado do Rio aumentou em 45,6% com relação ao mesmo período do ano passado – isto é, 12.808 delitos a mais.
Em
Cabo Frio, maior cidade da Região dos Lagos do estado, a situação não é
diferente. Pelo contrário, parece mais um espelho do que acontece “lá fora”. Em
2012, o município encerrou o ano com o terceiro maior índice de homicídios no
Rio, com 65 a cada 100 mil habitantes. A situação piorou, digamos, de um mês
para cá, período em que os casos de violência se tornaram quase que uma
epidemia. O estopim foi no último dia 13, quando uma operação das polícias
Militar e Civil invadiu a comunidade da Boca do Mato para vasculhar pontos de
drogas e apreender aqueles abordados em flagrante. Foi preciso um ônibus para
recolher todos os detidos.
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Fizemos a operação com o absoluto sigilo para que ninguém soubesse o nosso
destino, com o risco de sair um vazamento. A operação foi um sucesso –
comemorou a Delegada da 126ª DP da cidade, Flávia Monteiro de Barros.
Dias
depois, no bairro Jacaré, um outro caso chocou a cidade. Duas mulheres foram
encontradas mortas com requintes de crueldade. Elas foram carbonizadas e
assassinadas de forma violenta. De acordo com a polícia, a dupla tinha
envolvimento com a facção criminosa rival. No dia seguinte, um carro entrou no
mesmo bairro atirando aleatoriamente até acertar a cabeça de Herald Peterson
Siqueira, de 31 anos, que morreu na hora.
Foi necessário um ônibus para encaminhar todos os detidos no bairro Boca do Mato à delegacia . Foto: Divulgação |
Como
se nada disso bastasse, traficantes do bairro Praia do Siqueira, supostamente
revoltados com a morte de seu líder, apelidado de Chica, atearam fogo em um
ônibus e arrastaram uma onde de medo na região. O comércio por ali permaneceu fechado por pelos menos dois dias.
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A situação ficou muito tensa mesmo. Não teve aula durante dois dias na escola dos
meus filhos porque a direção ficou com medo das crianças andarem pelas ruas –
conta uma moradora do bairro. - Nesses dias ninguém teve coragem de ficar
sentado aqui como de costume. Em dias normais muitas famílias vêm para cá
curtir o pôr do sol, mas essa semana eu vendi três refrigerante, é difícil de
acreditar, mas foi verdade – completou uma vendedora.
O
sensação de insegurança na cidade era tamanha que a prefeitura precisou agir.
Recentemente, o prefeito Alair Corrêa se reuniu com o governador do estado,
Luiz Fernando Pezão, para pedir basicamente ajuda para combater a violência.
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Pedi reforço do estado em homens e equipamentos – resumiu.
Cabo Frio pede
paz
Com
o objetivo de dar um “basta” nas manifestações de violência e demonstrar a
indignação da sociedade frente aos atuais números, cerca de 1 mil pessoas se
reuniram na Praça Porto Rocha, no Centro de Cabo Frio, no último dia 16 para
protestar em um evento batizado de “Caminhada pela Paz”. Promovido pela
organização “Jovens da Paz”, a iniciativa contou a colaboração da Associação
Comercial, Industrial e Agrícola da cidade, da prefeitura e, claro, da
população.
Cerca de 1 mil pessoas se reuniram no centro da cidade com um único objetivo: pedir paz . Foto: Horário CF Zone |
Vestidos
com camisetas brancas e levando uma rosa da mesma cor nas mãos, as pessoas
percorreram ruas da cidade. Muitos levavam fotos de Herald, que havia sido
assassinado no Jacaré dias antes.
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Quero que as pessoas se
conscientizem e parem de fazer tantas maldades, que parem com essa guerra que
está matando até inocentes, como o meu filho. Chega de tanta violência.
Precisamos de Deus no coração. Precisamos de paz – pediu, emocionada, Vera
Lúcia Figueiredo, mãe da vítima.
Seria essa onda de violência
resultado das UPP’s?
Desde que as UPP's foram instaladas, violência no interior do Rio de Janeiro aumentou . Foto: Carlos Magno |
Os
municípios do interior do Rio de Janeiro, antes considerados refúgios para quem
precisava escapar da agitação da cidade grande, estão cada vez mais distantes
da tranquilidade que seduzia turistas.
Desde a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP’s) na capital, os
moradores do interior têm sofrido com o aumento da violência acarretado pelo
escoamento dos bandidos.
Embora
o estado negue essa consequência, os números a provam. Estatísticas do Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado
demonstram que na área de atuação do 25º Batalhão da Polícia Militar,
responsável pelos municípios de Araruama, Saquarema, Cabo Frio, Iguaba Grande,
Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia e Armação de Búzios, durante os meses de
fevereiro, março e abril de 2013, o total de roubos aumentou em 33%, ou mais
111 delitos se comparado com o mesmo período do ano anterior (2012). Os furtos aumentaram
em 20,6%, ou seja, foram registrados 326 delitos a mais que no mesmo período
ano passado.
Para
a sociedade, não resta dúvida: a instalação das UPP’s no Rio de Janeiro estaria
sendo responsável pelo crescimento dos índices de violência no interior. Fato
ou coincidência, a Região dos Lagos sofre com a falta de segurança. E não é de
hoje.
Por: Tébaro Schmidt, Leticia Ferreira, Leticia Silva, Cláudia Giovanna, Niedja Ribeiro, Artur Rangel, Daniel Santanna, Maria Antônia Casarões, Juliana Rodrigues, Walkiria Souza, Jônatas Willemen, Flávia Manoella, Paula Zózimo :: UVA PASSA
O link para a matéria em vídeo é essa: https://www.youtube.com/watch?v=-4NJxCW19jY
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