sexta-feira, 14 de março de 2014

Combate ao tráfico de drogas gera disputa entre facções criminosas em Cabo Frio


Segurança CF - Apreensão de armas em Cabo Frio
(foto divulgação)

“Para se promover a Copa do Mundo aqui, será necessário acionar o Exército.”

Essa foi a resposta do senhor Gilberto dos Santos, de 58 anos ao ser questionado a respeito da violência dos últimos dias. Morador de Cabo Frio, o funcionário público depara-se atualmente com uma guerra em sua cidade. De um lado, traficantes tocam o terror em locais que vão de pequenos municípios até grandes centros através de um poder paralelo muitas vezes mais organizado que as próprias ações do Governo. Do outro, policiais que precisam a qualquer custo “limpar” esses territórios tomados pelos chamados bandidos, tendo em vista que o país receberá, dentro de quatro meses, o evento de futebol mais importante do planeta: a Copa do Mundo.


Essa batalha, pelo menos em Cabo Frio, tirou a vida de uma criança de menos de dois anos de idade recentemente. Em todo país, por sua vez, as perdas nos últimos anos são quase que incontáveis. Tomando como base o estado do Rio de Janeiro no período entre 2008 – ano seguinte à eleição do Brasil como sede da Copa – e 2013, foram mais de 23 mil homicídios, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Números que justificam o medo sentido por Seu Gilberto.

O 25º Batalhão da Polícia Militar, em Cabo Frio, tem tido muito trabalho. Em quase um mês, diversas operações contra o tráfico de drogas em comunidades da Região dos Lagos deixaram mortos, feridos e moradores assustados com a violência na cidade. O caos começou no dia 3 de fevereiro, quando 40 pessoas foram detidas em um baile funk, no bairro Porto do Carro. Na ocasião, a polícia foi averiguar uma denúncia sobre tráfico de drogas no local, e, ao chegar os policiais foram recebidos a tiros. Um sargento foi atingido na cabeça por uma bala, e até hoje permanece internado em estado grave no Hospital Regional de Araruama.

Após a operação, a polícia resolveu investir no patrulhamento ostensivo nas áreas de maior incidência. Dias depois, novo conflito entre traficantes e a PM fez vítimas, entre elas Gabrielle Correia de Albuquerque Telles, de um ano e meio, e um jovem de 17 anos, Gabriel de Souza Santana, ambos atingidos na cabeça. Em seguida, uma série de mortes desencadeou uma onda de violência no município.

Foto Divulgação Cabo Frio
Diariamente traficantes de facções rivais aparecem mortos e bandidos intimidam moradores de bairros dominados pelo tráfico. Em casos mais recentes, ainda no Porto do Carro, criminosos impuseram toque de recolher por causa da morte do traficante ‘Felipinho’. Os ônibus desviaram o itinerário, comerciantes fecharam as portas e moradores foram prejudicados pela violência. A polícia reforçou o efetivo e pediu apoio de um carro blindado do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). O ‘caveirão’ é utilizado para garantir a segurança dos policiais, nas operações com maior risco.

Em apenas um fim de semana mais de oito homicídios foram registrados nas áreas correspondentes ao 25º BPM. Segundo o tenente-coronel Ruy França, os números são uma mostra do atual quadro da criminalidade na região. “As ocorrências também são resultados do trabalho exercido pela polícia, realmente os crimes aumentaram, mas as prisões e apreensões também. O nosso objetivo é equilibrar as operações com a redução dos crimes, esse é o grande desafio.” Declarou o comandante. Além disso, o representante da polícia explicou brevemente o que ocasionou essa onda violenta. “O que tem acontecido é uma disputa por território entre os traficantes rivais. Nós fazemos mensalmente um balanço das operações, e notamos esse tipo de comportamento. Estamos monitorando as regiões mais problemáticas e tentando encontrar soluções cabíveis a cada localidade.” Reforçou.

Moradores se sentem coagidos
“A situação está crítica, acho até que teria que ter o acompanhamento do Bope e também a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora, como já acontece em outras cidades. Na semana passada teve operação da PM lá perto de onde eu moro, mas agora cadê a polícia? Já está tudo a mesma coisa, tráfico de drogas, assaltos, não mudou nada.” Desabafa, Tatiana da Silva, 25 anos, moradora do Jardim Esperança. 

O publicitário Vinícius Condeixa, 26 anos, morador do Braga, foi assaltado em janeiro, quando voltava da Praia do Forte, ele também está preocupado com a violência na cidade.  “Eu estava sozinho e fui abordado por um homem com uma ‘peixeira’ (tipo de faca) na mão. É horrível se sentir impotente, mas o que eu podia fazer naquele momento? Há dez anos as pessoas podiam ir aonde quisessem, a qualquer hora do dia, sem a menor preocupação, mas agora é preciso ter cuidado.” – Comenta o publicitário.

Não habituados com as recentes cenas de violência, alguns moradores de Cabo Frio já comparam a vida no município com a da capital carioca. “Saí do Rio de Janeiro há três anos. Queria paz e por isso vim para Cabo Frio, mas agora a violência já chegou aqui. Eu moro em um dos lugares onde a polícia estava fazendo diversas operações, e penso em me mudar novamente.” Diz Alexander Viana, 38 anos, motorista de caminhão, morador do Porto do Carro.

Por Tébaro Schmidt, Lorena Brites, Mônica Maria e Daniel Sant’Anna :: UVA PASSA

Leia mais:


Nenhum comentário:

Postar um comentário