Segurança CF - Apreensão de armas em Cabo Frio (foto divulgação) |
“Para
se promover a Copa do Mundo aqui, será necessário acionar o Exército.”
Essa
foi a resposta do senhor Gilberto dos Santos, de 58 anos ao ser questionado a
respeito da violência dos últimos dias. Morador de Cabo Frio, o funcionário
público depara-se atualmente com uma guerra em sua cidade. De um lado,
traficantes tocam o terror em locais que vão de pequenos municípios até grandes
centros através de um poder paralelo muitas vezes mais organizado que as
próprias ações do Governo. Do outro, policiais que precisam a qualquer custo
“limpar” esses territórios tomados pelos chamados bandidos, tendo em vista que
o país receberá, dentro de quatro meses, o evento de futebol mais importante do
planeta: a Copa do Mundo.
Essa
batalha, pelo menos em Cabo Frio, tirou a vida de uma criança de menos de dois
anos de idade recentemente. Em todo país, por sua vez, as perdas nos últimos
anos são quase que incontáveis. Tomando como base o estado do Rio de Janeiro no
período entre 2008 – ano seguinte à eleição do Brasil como sede da Copa – e
2013, foram mais de 23 mil homicídios, de acordo com dados do Instituto de
Segurança Pública (ISP). Números que justificam o medo sentido por Seu Gilberto.
O
25º Batalhão da Polícia Militar, em Cabo Frio, tem tido muito trabalho. Em
quase um mês, diversas operações contra o tráfico de drogas em comunidades da
Região dos Lagos deixaram mortos, feridos e moradores assustados com a
violência na cidade. O caos começou no dia 3 de fevereiro, quando 40 pessoas
foram detidas em um baile funk, no bairro Porto do Carro. Na ocasião, a polícia
foi averiguar uma denúncia sobre tráfico de drogas no local, e, ao chegar os
policiais foram recebidos a tiros. Um sargento foi atingido na cabeça por uma
bala, e até hoje permanece internado em estado grave no Hospital Regional de
Araruama.
Após
a operação, a polícia resolveu investir no patrulhamento ostensivo nas áreas de
maior incidência. Dias depois, novo conflito entre traficantes e a PM fez
vítimas, entre elas Gabrielle Correia de Albuquerque Telles, de um ano e meio,
e um jovem de 17 anos, Gabriel de Souza Santana, ambos atingidos na cabeça. Em
seguida, uma série de mortes desencadeou uma onda de violência no município.
Foto Divulgação Cabo Frio |
Diariamente
traficantes de facções rivais aparecem mortos e bandidos intimidam moradores de
bairros dominados pelo tráfico. Em casos mais recentes, ainda no Porto do
Carro, criminosos impuseram toque de recolher por causa da morte do traficante
‘Felipinho’. Os ônibus desviaram o itinerário, comerciantes fecharam as portas
e moradores foram prejudicados pela violência. A polícia reforçou o efetivo e
pediu apoio de um carro blindado do Batalhão de Operações Policiais Especiais
(BOPE). O ‘caveirão’ é utilizado para garantir a segurança dos policiais, nas
operações com maior risco.
Em
apenas um fim de semana mais de oito homicídios foram registrados nas áreas
correspondentes ao 25º BPM. Segundo o tenente-coronel Ruy França, os números
são uma mostra do atual quadro da criminalidade na região. “As ocorrências
também são resultados do trabalho exercido pela polícia, realmente os crimes
aumentaram, mas as prisões e apreensões também. O nosso objetivo é equilibrar
as operações com a redução dos crimes, esse é o grande desafio.” Declarou o
comandante. Além disso, o representante da polícia explicou brevemente o que
ocasionou essa onda violenta. “O que tem acontecido é uma disputa por
território entre os traficantes rivais. Nós fazemos mensalmente um balanço das
operações, e notamos esse tipo de comportamento. Estamos monitorando as regiões
mais problemáticas e tentando encontrar soluções cabíveis a cada localidade.” Reforçou.
Moradores se sentem coagidos
“A situação está crítica, acho até que teria que ter o acompanhamento do
Bope e também a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora, como já
acontece em outras cidades. Na semana passada teve operação da PM lá perto de
onde eu moro, mas agora cadê a polícia? Já está tudo a mesma coisa, tráfico de drogas,
assaltos, não mudou nada.” Desabafa, Tatiana da Silva, 25 anos, moradora do Jardim Esperança.
O publicitário Vinícius Condeixa, 26 anos, morador do Braga, foi
assaltado em janeiro, quando voltava da Praia do Forte, ele também está
preocupado com a violência na cidade. “Eu
estava sozinho e fui abordado por um homem com uma ‘peixeira’ (tipo de faca) na
mão. É horrível se sentir impotente, mas o que eu podia fazer naquele momento?
Há dez anos as pessoas podiam ir aonde quisessem, a qualquer hora do dia, sem a
menor preocupação, mas agora é preciso ter cuidado.” – Comenta o publicitário.
Não habituados com as recentes cenas de violência, alguns moradores de
Cabo Frio já comparam a vida no município com a da capital carioca. “Saí do Rio
de Janeiro há três anos. Queria paz e por isso vim para Cabo Frio, mas agora a violência
já chegou aqui. Eu moro em um dos lugares onde a polícia estava fazendo
diversas operações, e penso em me mudar novamente.” Diz Alexander Viana, 38
anos, motorista de caminhão, morador do Porto do Carro.
Por
Tébaro Schmidt, Lorena Brites, Mônica Maria e Daniel Sant’Anna :: UVA PASSA
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