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Geni Bernat, ex-presa política |
Geni Bernat tem histórias para contar.
Aliás, não era qualquer pessoa que tinha a coragem de se opor ao regime militar
instaurado por meio de golpe em março de 1964, ainda mais entrando na vida do Partido
Comunista – que na época vivia clandestinamente – Hoje em uma realidade bem
diferente da qual passou no Rio de Janeiro durante a ditadura, Geni trocou a
vida de militante para ser professora, e escolheu Cabo Frio para morar.
A professora viveu momentos de horror,
na prisão do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), e apesar do
sofrimento, orgulha-se de poder ter contribuído para democracia reinar novamente
no Brasil. Questionada sobre as primeiras impressões do que diziam ser a “Revolução
1964”, Geni recorda: “Me lembro bem do dia do golpe. As forças armadas estavam
na rua, não teve aula, a televisão saiu do ar, o rádio também, depois soubemos
que pessoas foram presas, sindicatos fechados. Viver na época da ditadura era
se relacionar sem poder confiar nas pessoas, pois qualquer pessoa poderia ser
um representante da ditadura. Era você não ter liberdade para falar do que você
pensa e nem para fazer o que quiser”, completa.
O ingresso com o Partido Comunista
começou cedo, aos 13 anos, ainda na escola, onde havia um grêmio estudantil
pertencente à base do partido. Geni logo obteve um dos cargos mais importantes,
a menina ficou responsável pela gráfica. As aventuras foram muitas, de
encontros na casa de Luis Carlos Prestes, a lugares que nem ela mesma podia
saber o caminho, pois tinha de fechar os olhos durante o percurso, até provocar
um leve incêndio no banheiro por tentar queimar documentos, a inúmeras viagens
de ônibus, vestindo uma peruca para chegar ao destino.
A vida dupla, entretanto, era bastante
arriscada, e em 1978, os líderes do núcleo do partido foram presos. A situação
era de alerta máximo, para a atual professora, a prisão foi inevitável, tendo
que ficar numa cela escura por três meses. Os traumas foram muitos, Geni passou
dias sem ver a luz do sol. A liberdade só veio após três meses de atividade
jurídica intensa. “Foi graças ao advogado Dr. Assis, que me ‘adotou’ junto com
a filha dele, que morreu lá. Só eu saí.”
A relação com o pai militar após a
descoberta foi marcante. “Meu perfil para minha família mudou drasticamente. Eu
sou filha única, era tratada igual rainha. Após eu ser libertada, meu pai se
sentiu traído, perguntava por que eu tinha feito aquilo com ele”, conta. Porém,
não há arrependimentos das escolhas feitas. Entre traumas e aprendizados Geni
conclui, “era no fundo o que eu queria, é o que eu acredito até hoje. Com
certeza há democracia prevalece, temos deputados eleitos; eu posso expressar a
minha opinião sobre a presidente do país sem ser presa. O que não existe é uma
democracia econômica, e sim uma democracia política, mesmo sem ser plena”,
conclui.
Por: Danilo Perrote :: UVA PASSA
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