quinta-feira, 8 de maio de 2014

PEDRAS DE GENI : Relatos de uma presa política na Ditadura Militar




Geni Bernat, ex-presa política
Geni Bernat tem histórias para contar. Aliás, não era qualquer pessoa que tinha a coragem de se opor ao regime militar instaurado por meio de golpe em março de 1964, ainda mais entrando na vida do Partido Comunista – que na época vivia clandestinamente – Hoje em uma realidade bem diferente da qual passou no Rio de Janeiro durante a ditadura, Geni trocou a vida de militante para ser professora, e escolheu Cabo Frio para morar.

A professora viveu momentos de horror, na prisão do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), e apesar do sofrimento, orgulha-se de poder ter contribuído para democracia reinar novamente no Brasil. Questionada sobre as primeiras impressões do que diziam ser a “Revolução 1964”, Geni recorda: “Me lembro bem do dia do golpe. As forças armadas estavam na rua, não teve aula, a televisão saiu do ar, o rádio também, depois soubemos que pessoas foram presas, sindicatos fechados. Viver na época da ditadura era se relacionar sem poder confiar nas pessoas, pois qualquer pessoa poderia ser um representante da ditadura. Era você não ter liberdade para falar do que você pensa e nem para fazer o que quiser”, completa.


O ingresso com o Partido Comunista começou cedo, aos 13 anos, ainda na escola, onde havia um grêmio estudantil pertencente à base do partido. Geni logo obteve um dos cargos mais importantes, a menina ficou responsável pela gráfica. As aventuras foram muitas, de encontros na casa de Luis Carlos Prestes, a lugares que nem ela mesma podia saber o caminho, pois tinha de fechar os olhos durante o percurso, até provocar um leve incêndio no banheiro por tentar queimar documentos, a inúmeras viagens de ônibus, vestindo uma peruca para chegar ao destino.

A vida dupla, entretanto, era bastante arriscada, e em 1978, os líderes do núcleo do partido foram presos. A situação era de alerta máximo, para a atual professora, a prisão foi inevitável, tendo que ficar numa cela escura por três meses. Os traumas foram muitos, Geni passou dias sem ver a luz do sol. A liberdade só veio após três meses de atividade jurídica intensa. “Foi graças ao advogado Dr. Assis, que me ‘adotou’ junto com a filha dele, que morreu lá. Só eu saí.”  

A relação com o pai militar após a descoberta foi marcante. “Meu perfil para minha família mudou drasticamente. Eu sou filha única, era tratada igual rainha. Após eu ser libertada, meu pai se sentiu traído, perguntava por que eu tinha feito aquilo com ele”, conta. Porém, não há arrependimentos das escolhas feitas. Entre traumas e aprendizados Geni conclui, “era no fundo o que eu queria, é o que eu acredito até hoje. Com certeza há democracia prevalece, temos deputados eleitos; eu posso expressar a minha opinião sobre a presidente do país sem ser presa. O que não existe é uma democracia econômica, e sim uma democracia política, mesmo sem ser plena”, conclui.

 
Por: Danilo Perrote :: UVA PASSA



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